quarta-feira, 9 de março de 2011

POST-07-As Cordas, Os Nós e a Espada

As Cordas, Os Nós e a Espada





Há uma espada de Dâmocles sobre nossa cabeça.


Mas há cordas prontas a nos salvar.




-As cordas vocais são duas pregas musculares elásticas, distendidas horizontalmente diante da glote. Vibradas, produzem fonemas sonoros;


-Glote: pequena abertura triangular situada na laringe.






Há um senso comum na sociedade que “executa” avaliações de mérito a todo segundo, minuto e hora durante vinte e quatro horas, semanalmente, mensalmente e anualmente sobre as pessoas.


(eu quis mesmo usar todos esses “mentes” para mostrar os exageros das avaliações)


Todos são avaliados o tempo todo pelo que aparentam, pelo que falam, pelo que fazem, pelo que tem, pelo que são e sentem. E a sociedade nos dá “notas de 0 a 10”, classificando-nos em classes A, B, C, D, E, F...( quem sabe um dia não teremos pessoas da classe social “X” ou “Z”.Usando assim todo o alfabeto português brasileiro rsssss)


Não sei por que me veio à cabeça a imagem da espada de Dâmocles suspensa sobre minha careca e pronta a me rachar ao meio de forma avalia tória (ou seria avaliativa??)


Nas duas principais instituições da sociedade, a família e a escola, somos condicionados desde o berço a nos pré-ocuparmos com o que os outros vão dizer. E que “notas” nos darão sobre tudo que fizermos ou tivermos? Quando temos irmãos somos comparados com eles. Quando temos vizinhos idem (...veja a filha da vizinha...ela não faz como você...porque você é assim???),(humm eu tive uma vizinha em minha adolescência...é bom nem lembrar senão perco o “fio da meada”).


Na escola então é um terror só. Notas, notas, bimestre notas trabalhos prova prazo, recusa do professor em aceitar o “maldito trabalho” após o prazo; e a sutil ironia do “mestre” humilhando publicamente o “aluno” em sala por conta da nota “baixa”. E todos vão crescendo neuróticos; conscientes de seu estado de inutilidade. Porém pré-ocupados com notttaaaaassssss.


Na adolescência vem o medo de “levar um fora” da menina e ficar com cara de cachorro molhado. Vem a necessidade tremenda, imperativa de ser aceito pelo “grupo”. E aí fazemos mil coisas para sermos aceitos.






E as Cordas Vocais e a Glote? VIBRAÇÃO E ABERTURA.


É a Natureza em ação e, a resposta ao garoto tímido que tem medo de “causar”. E “abrir a boca” ou escrever falando “merdas”. E assim levar nota zero dos outros no mundo avaliativo a sua volta.


Mas qual a relação da “espada de Dâmocles” com o fato de sermos avaliados todo o tempo pela sociedade e desejarmos sempre ser aprovados nestes exames em busca de eficiência e sucesso?


Em nossos dias vivemos na filosofia do “Ter”. Mas nas épocas passadas esse também era o ideal de vida, ter coisas, acumular coisas e aparentar posses. A lenda conta que Dâmocles era amigo do rei de Siracusa(Sicília) e invejava o poder e a riqueza que este possuía. O rei tanto se cansou da inveja de Dâmocles que resolveu lhe dar uma lição. Trocou de lugar com Dâmocles transferindo a este todo seu poder e riqueza. Porém a felicidade de Dâmocles por ter ficado rico e poderoso durou pouco. Ele teria que submeter-se a um perigo diário que consistia numa afiada espada pendente sobre sua cabeça. E segura apenas por um fio muito frágil. O movimento intencional ou não de qualquer pessoa ou do próprio Dâmocles poderia fazer com que o fio rompesse, e a espada abriria o crânio do infeliz ao meio. A posição de riqueza, sucesso e poder que Dâmocles julgava que lhe traria felicidade, fez dele um prisioneiro tenso, com medo e infeliz.


Dâmocles virou refém de seu “sucesso individual”. A situação individual que aparentemente era de força e êxito fazia dele um ser frágil e derrotado.


Vivemos ansiosos para que os outros e a sociedade nos avalie positivamente. Vivemos sonhando com sucessos e idolatrando pessoas de sucesso. Endeusamos a distinção e o mérito. Mas, quanto esse modo de sentir e pensar nos aprisiona num poço de ansiedades, frustrações e culpas??? Tirando-nos o prazer de viver pelo viver!


E só nos resta viver para sermos distintos e notados???


Quem vive tão preocupado com o êxito e com a “nota” que vai receber por seus feitos tem um viver muito individualizado. Numa LINHA de fronteira divisando o “crime” do criminoso. Na natureza crime e criminoso são um. A transgressão transgride o transgressor.


Qual a característica do egoísmo? Não compartilha, não realiza trocas nem empatias. Não entra em RESSONÂNCIA. Ressonância é a lição de física que o aparelho humano produtor dos sons tem a nos ensinar à alma, ao coração. Na glote e epiglote é feita a administração das passagens do ar. DoAr...Do ar que alimenta o ser humano e lhe dá voz e comunicação.


COMUNICAÇÃO QUE É DOAÇÃO DA INTENÇÃO. CORDA VOCAL BUSCANDO ACORDAR AS INTENÇÕES, OS PLANOS E OS DESEJOS.


Nos sons orais o fluxo vibrante de ar formado nas cordas vocais tem caminho aberto à cavidade bucal e, tem sua amplitude aumentada pela ressonância no “céu da boca”. Nos sons nasais o fluxo do-ar “escolhe” outro caminho para entrar em ressonância. A Natureza nos ensina basicamente três lições ao longo do fluxo do-Ar no aparelho fonador:


Escolha de percurso, administração da escolha e RESSONÂNCIA. Ressonar é vibrar na mesma freqüência, entrar em sintonia. Ressonância é a “soma dos movimentos de mesmo ritmo”.


Há uma quarta lição que a natureza nos ensina do lado de fora do aparelho da Voz( exterior onde a corda vocal se estica, amplia e enlaça realizando Nós envolventes).Vozes que vibram e ressoam em tons e ritmos diferentes. Com opiniões diferentes, buscam e encontram acordos e soluções para vivências comuns e conflitantes. As almas entram em RESSONÂNCIA. SOMAM seus Saberes, suas vivências criativas e solucionam a vida onde só havia DISCÓRDIAS. Onde havia somente DISSONÂNCIAS na mente. Dissonâncias entre corpos e, entre o corpo e o pensar.


A ESPADA sobre o crânio de Dâmocles certamente é presa ao teto do palácio por alguns “nós” no fio frágil que a enlaça. Será necessário que o nó se desfaça ou que o fio se rompa para que, rasgando-lhe o crânio, a espada tire violentamente de Dâmocles a sua ilusão de felicidade representada pelo “Poder”, distinção, coisas e riquezas???






AS CORDAS VOCAIS EXTERIORIZAM ATRAVÉS DE RESSONÂNCIAS FORMANDO GRANDES NÓS DE REDES ONDE AS VIDAS DOS SERES E DAS COISAS SE ENLAÇAM.






Ao perceber a grande lição que o rei de Siracusa lhe transmitia, Dâmocles entrou em ressonância com o monarca tão invejado por ele anteriormente. Dâmocles achou a humildade. E humildade é: senso de medida, de espaço e de tempo.


As cordas do violão humildemente entram em ressonância com a caixa de madeira. As cordas vibram, ressoam e a música acontece. As cordas são presas no braço do instrumento musical por algo semelhante a “NÓS”.






CORDAS NÓS E SONS


NÓS SONMOS CORDAS RESSONANTES.ANTES DURANTE E APÓS OS NÓS


Nós somos SONS


E é ilógico tentarmos romper cordas sonoras com uma ESPADA






Raines-12 de outubro de 2007


Logan814@hotmail.com




terça-feira, 8 de março de 2011

POST-05-TRECHO DA ENTREVISTA DO AFRIKA BAMBAATAA QUANDO VEIO AO BRASIL EM 2007

O CRIADOR DO HIP HOP CONCEDEU ESTA ENTREVISTA AO PORTAL BOCADA FORTE EM 2007 QUANDO VISITOU O BRASIL.
http://centralhiphop.uol.com.br/site/?url=materias_detalhes.php&id=543

Afrika Bambaataa



Data: 11/05/2007




Enquanto o maior representante da igreja católica chegava ao Brasil para uma curta visita, o "Papa do Hip-Hop", Afrika Bambaataa, já andava por terras brasileiras, promovendo a mensagem da Universal Zulu Nation, da cultura Hip-Hop, da paz, da união e, principalmente, da diversão. São mais de 30 anos de Cultura Hip-Hop. De lá pra cá muita coisa se passou. Afrika Bambaataa, 50 anos, viu o que antes era um simples "movimento" virar uma cultura global e sua voz ser escutada e respeitada no mundo todo. Com apresentação marcada para o Skol Beats 2007, no Anhembi (confira a galeria de fotos), Bambaataa trouxe consigo seu filho, o MC TC Izlam, King Kamonz, DJ Soul Slinguer e toda sua energia positiva.






Num encontro descontraído com o Portal Bocada Forte e a jornalista Cinthia, da Zulu Nation Brasil, no hotel onde se encontrava hospedado, Bambaataa falou sobre como vê o mundo hoje e suas preocupações, espiritualidade, a música Rap e, claro, Cultura Hip-Hop.






Bocada Forte: Nós ouvimos você comentar de sua preocupação com a violência no Brasil... Afinal, o que vem fazendo Bambaataa se preocupar e refletir nos dias de hoje, além da violência?






Afrika Bambaataa: O grande problema no mundo hoje é o acesso ao conhecimento, a educação. Também a questão do racismo e do poder branco, da "supremacia branca". Muitos dos meus irmãos e irmãs do Brasil precisam esforçar-se para aumentar seu conhecimento sobre si mesmos e os outros. Por exemplo... Isso significa, que aqueles que se chamam pretos brasileiros precisam saber que seus ancestrais não vieram ao Brasil somente em navios negreiros, como escravos. Vocês são os herdeiros de um povo que estava aqui muito antes desta terra ser chamada Brasil, ou América Latina, ou América Central ou do Norte. Seus ancestrais aqui viviam, assim como os Maias, Astecas e tantos outros povos. É preciso que a juventude passe a estudar, conhecer e a debater como era o Brasil antes de ele ser chamado Brasil. É preciso buscar as reais origens, não somente de quando os europeus por aqui chegaram.






Quando você se aprofunda no estudo das raízes da história você fica sabendo quem estava aqui muito antes de Colombo pisar aqui. No filme feito por Mel Gibson, chamado "Apocalíptico", por exemplo, você não vê uma representação dos Maias com pele clara, fantasiosa. Vê homens com chapéus quadrados, cabelos rasta, com locks, pele mais escura, exatamente como realmente se pareciam as pessoas daquela época. Essa é uma representação baseada em estudos. Outro exemplo: você sabe da história de Zumbi? Você pode encontrar muita coisa nos computadores, na Internet sobre ele, mas muito poucos livros. As pessoas recebem a informação de que a cultura do povo preto começou com a escravidão, mas isso não é verdade. Assim, nós precisamos matar o racismo e mostrar a todos que pretos, marrons, vermelhos, amarelos, brancos somos todos seres humanos.






Verdadeiramente, não existe uma terra chamada "terra dos pretos", "terra dos marrons", "terra dos brancos", "terra dos vermelhos". Isso tudo é uma cultura de supremacia branca. A real questão é onde você nasceu, o seu berço, qual sua nacionalidade, de onde você veio. Daí se percebe que a real luta é a luta contra a violência entre os povos. A luta é cidade à cidade, favela à favela, rua à rua, nas esquinas. Cada um fazendo sua parte, dando o melhor de si. Buscando o conhecimento de si mesmo e da vida podemos vencer e realmente libertar-nos.









terça-feira, 1 de março de 2011

POST-03-BLOG "INVENTAR A VIDA"(Onde está a história de Laíssa)

http://www.marcioramosfoto.com.br/inventar/?p=49

POST-02-Histórias de superação: catadora na Universidade, que venham muitas Laíssas

                                                   HISTÓRIA DE                                         UMA                             GUERREIRA
RECEBI UM E-MAIL DE JOELMA DO COUTO. PESSOA DEDICADA LIGADA À LUTA DOS CATADORES DE RECICLÁVEIS DA COOPERATIVA DA GRANJA JULIETA. ESSA HISTÓRIA É UMA LIÇÃO DE VIDA  ENSINADA POR PESSOAS COM ESPÍRITO VERDADEIRAMENTE NOBRE E GUERREIRO. HISTÓRIA QUE MERECE SER CONTADA INCANSAVELMENTE.


http://mariafro.com.br/wordpress/?p=22204&cpage=1#comment-30110
(ENDEREÇO DO BLOG ONDE ESTÁ POSTADO ESSA HISTÓRIA)



Histórias de superação: catadora na Universidade, que venham muitas Laíssas


dezembro 10th, 2010 by mariafro

Que venham muitas e muitas Laíssas.


Laíssa voluntária da ONG UTPMP fazendo casas de emergência enquanto sofre ação de despejo de sua própria casa.


Reciclando a vida: transformando o futuro


Por: Joelma do Couto no blog Inventar a vida


12/11/ 2010


Laíssa Sobral Martins matricula-se no curso de gestão ambiental de uma universidade privada. Mais tarde voltaremos ao tema.


Esta história poderia começar de muitas maneiras, mas resolvi começar pela mãe, afinal, a mãe é o principio, é onde todos começam.


A mãe de nossa personagem, Laíssa, chama-se Mara Lúcia Sobral Santos. Baiana, vive desde muito pequena em São Paulo. Mara Lúcia, aos nove anos, perdeu a mãe. Se com a mãe a vida já não era fácil, sem ela, o que dizer. Mara Lúcia e suas três irmãs foram parar em um abrigo para menores. De lá, ela fugiu, negou-se a aceitar os maus tratos. Foi para as ruas e, lá, aprendeu com a vida a se virar. As ruas do centro da cidade foram sua escola, sua vida, seu diploma e seu carrasco. Mas Mara Lúcia preferia assim, era um preço alto pela liberdade, porém, era a liberdade.


Nas idas e vindas da vida, Mara Lúcia conheceu homens e mulheres, teve amantes, amados e odiados. Teve dois filhos, Laíssa e Everton. Com duas crianças nos braços, teve que deixar as ruas, precisava um porto seguro. Voltou às raízes, foi para a região do Grajaú, mais exatamente para a Vila Rubi, onde cresceu. Ocupou um barraco, sem telhado, cobriu com uma lona. Lá nasceu a bela Rafaela.


Para criar os filhos, trabalhou como doméstica, vendeu balas nos pontos de ônibus, fez de tudo um pouco.


A pequena Laíssa aos poucos viu seu pequeno barraco se encher de caras novas, a mãe, coração mole, foi abrindo a casa para outras crianças e adolescentes vítimas de violência e de abandono. Vieram os gêmeos, um morreu. A Joana com seus dois filhos. Enfim, nove irmãos adotivos, todos dentro de um barraco de quatro cômodos em cima de um córrego. Mas felizes e protegidos.


Aqui a história da Laíssa começa a mudar. Um dia, sua mãe fica sabendo que no bairro da Granja Julieta, zona sul de São Paulo havia sido criada uma cooperativa de catadores, era a gestão de Marta Suplicy.


Mara Lúcia então começa a trabalhar na cooperativa, juntamente com sua filha adotiva, Joana. Laíssa e o irmão, Everton, ficam em casa com os irmãos menores. Não sobra muito tempo para os estudos. Também não há uma preocupação, digamos que os estudos não são prioridade. Na favela, lugar por muitos chamados de senzala moderna, poucas pessoas sonham em ir para a universidade. Em meio a enchentes, incêndios, ratos, tráfico de drogas, violência policial, pagar o aluguel, comer, garantir creches para os filhos etc., etc…. Universidade é o de menos, se completar o ensino fundamental já “tá no lucro”. Para Everton, irmão de Laíssa, “A Universidade é algo muito distante de nós, muito longe de mim”.


Da cooperativa de reciclagem, sua mãe tira tudo que precisam pra a sobrevivência, bolsas, móveis, brinquedos, o salário que no fim do mês alimentará a todos. A vida não é fácil, mas, para Mara Lúcia é mais difícil. Trabalhar numa cooperativa de catadores não é trabalho fácil. Na cidade de São Paulo, não existe uma política pública que incentive e apoie a catação. Existe um decreto do prefeito Gilberto Kassab, que não é devidamente aplicado.


Para uma mulher com 12 filhos, sem marido, o que sobra da sociedade é ouro. Laíssa sente no dia a dia a dor da mãe que se esforça para mantê-los longe das drogas, da prostituição. Mara Lúcia luta, luta para conseguir dar a seus filhos o lar que não teve. Laíssa comenta, “Lembro bem de uma aula de história em que meu professor contava a história da feijoada: a princípio era alimento dos negros escravos, feito com os restos que o senhor da casa-grande não comia. Depois, os brancos ricos descobriram o valor da feijoada e se apossaram dela. Hoje vejo mesmo acontecer com o lixo que nossas famílias coleta e vendem para a reciclagem há mais de 60 anos. Os ricos descobriram o valor da reciclagem e querem mais uma vez nos passar a perna”.


Como já disse, nada na vida de Mara Lúcia e seus filhos é fácil. Numa noite, meados de dezembro, mais precisamente dia 9 dezembro de 2008, alguém passa pela Avenida Alceu Mainardi de Araújo e atira fogo na cooperativa. Rapidamente o fogo que em contato com muito papelão, se espalha e destrói os sonhos, sonhados ou não de cerca de 80 trabalhadores que daquele espaço retiravam seu sustento.


Neste momento a vida de Laíssa se transforma totalmente. Sua mãe por não concordar com as atitudes que considera desumanas, por parte da presidente da cooperativa, Marcia Abadia, está trabalhando em outra cooperativa, mas ao ser chamada pelos antigos colegas de trabalho para somar na luta pela reabertura da cooperativa, joga tudo pelos ares, e vai, insanamente, lutar contra a Prefeitura da cidade de São Paulo e todos aqueles que não querem a cooperativa no local por questões imobiliárias ou por questões econômicas. O mercado da reciclagem é um mercado bilionário.


Durante o ano de 2009, Laíssa viu faltar sabonete, tomou banho gelado no rigoroso inverno, faltou leite para os pequenos, faltou ânimo para estudar. Laíssa que estava no terceiro ano do ensino médio, repetiu. No entanto, naquela altura do campeonato, o que significava perder o ano para quem não tinha o que colocar na mesa?


Mara Lúcia enfrentou a revolta dos filhos que não entediam porque ela deixou um emprego certo para lutar por uma causa que nem era sua, era do pessoal da Granja. Na comunidade Mara e seus filhos eram motivo de chacota, até mesmo na escola, os chamados ‘Lixeiros’, eram humilhados.


Sem apoio das outras cooperativas que morriam de medo da Prefeitura, Mara Lúcia encontrou apoio no Movimento Nacional do Povo da Rua. Lá a vida de Laíssa começou a mudar. O movimento do povo da rua é organizado. Por ironia, foi com o povo da rua que Laíssa começou a entender que tinha que voltar a estudar. Aprendeu o valor da Educação. Uma vez por mês o povo da rua se reúne para, no “Fala Rua”, discutir, debater, criar políticas púbicas capazes de diminuir a exclusão social. Com o povo da rua, Laíssa conheceu a Rede Rua de Comunicação, a Revista OCAS, e muitas, muitas pessoas sérias comprometidas com a construção de um país mais justo para todos. A família de Mara Lúcia, liderada por Laíssa, cria uma banda, a banda da cooperativa Granja Julieta. A banda toca em dezembro de 2009 (um ano após o incêndio) para o Presidente Lula. No Natal Solidário toca para pessoas em situação de Rua na Praça da Sé, centro de São Paulo. Laíssa começa a viajar, participar de seminários de formação, de palestras, sua mente se abre para um mundo que até então ela não conhecia.


Comovido com a luta de Mara Lúcia e seus companheiros catadores, o Presidente da República Luís Inácio Lula da Silva, telefona para o então Prefeito da Cidade de São Paulo Gilberto Kassab e pede que este reabra a cooperativa. No dia 27 de dezembro de 2009, um domingo, a pedido o Presidente da República o Prefeito visita o espaço onde funcionará a cooperativa de catadores da Granja Julieta.


Algo que parecia impossível aconteceu, a cooperativa da Granja Julieta reabriu. Devido a muitas brigas, empurra-empurra, a cooperativa passa a funcionar na Rua Carmo do Rio Verde próxima ao antigo espaço à Avenida Alceu Maynard de Araújo. Sem estrutura, o trabalho na cooperativa não é fácil, porém necessário. Laíssa começa a trabalhar com sua mãe. O Trabalho duro e braçal. Eles não têm empilhadeiras, esteiras, caminhões, a estrutura básica para um trabalho digno. Apesar de o governo federal ter disponibilizado seis milhões de reais há três anos, para a Prefeitura investir em suas centrais de triagem, o dinheiro continua na Caixa Econômica, sem uso.


Na casa de Laíssa uma mudança: Joana passa a ficar em casa para cuidar das crianças e, Laíssa e Everton, já maiores de idade, vão trabalhar com a mãe. Laíssa dorme na cooperativa. Transferiu-se para uma classe de EJA (Educação de Jovens e Adultos), na Escola Estadual Plínio Negrão, próxima a cooperativa. Para Laíssa a mudança não foi tão simples como se parece, sua mãe não queria permitir que ela dormisse na cooperativa; “Se ela ficar aqui dentro, comer, trabalhar, dormir, fizer da cooperativa seu lar, estará imersa no lixo e isso não é bom”, afirmava Mara Lúcia. Mas, Laíssa insistiu, trabalhar o dia todo, estudar a noite e voltar para casa seria muito cansativo, “se eu dormir aqui, (na cooperativa) ganharei umas horas a mais de sono e de estudo”.


Durante o ano de 2010, Laíssa fez cursos de formação ministrados por ONGs, pelos movimentos sociais e conheceu o Teto. A ONG “Um Teto para meu país”, criada, no Chile, em 1997, pelo Padre Felipe Berríos. O Teto como é chamada carinhosamente pelos universitários busca construir casas de madeira pré-fabricadas, para famílias em situação de risco. Num primeiro momento integrante da ONG procuram o poder público local e a comunidade para negociar e expor suas propostas. Em um segundo estágio constroem as casas. A construção é feita por universitários em férias. A ONG que chegou ao Brasil em 2002,construindo 20 casas no estado de Pernambuco. Laíssa e seu irmão Everton, em julho de 2010, ajudaram a construir cerca de 50 casas na Favela da Padroeira, em Osasco. Desta parceria, brotou em Laíssa e Everton o desejo maior de serem universitários. Da experiência nasceram belas amizades entre estudantes de classe média alta e adolescente favelados, que nunca haviam pensado na possibilidade de frequentar uma universidade ou fazer um intercambio. Mas Laíssa não se sentia verdadeiramente do Teto, não é universitária. A experiência foi frutífera, porém dolorida. Laíssa se lembrou dos tempos em que sua mãe mal tinha o que colocar na mesa para eles comerem e ainda tinha que se concentrar e continuar lutando, pois a cooperativa estava reaberta, o trabalho garantido, apesar da falta de estrutura. Só que a Prefeitura está realizando uma obra de canalização de córrego bem no córrego da Vila Rubi, Laíssa, sua mãe e seus irmãos deverão deixar o lar que conhecem para um local sabe se lá onde. A preocupação é imensa, mal acabaram de sair de uma luta e já estão em outra. Para Mara Lúcia, “nós pobres somos como ping-pong nas mãos dos ricos: se estamos aqui nos jogam lá, se estamos lá nos jogam acolá”. Depois de muita negociação e do apoio do Senador Eduardo Suplicy a Secretaria de Habitação da Prefeitura de São Paulo resolveu pagar 3 aluguéis para Mara Lúcia, afinal naquele lar em cima do córrego moram 12 pessoas mais aí começa outro problema, agora eles tem o dinheiro para alugar uma casa descente para todos até que saia o apartamento prometido pela Prefeitura, mas quem será o fiador? Uma solução seria pagar o seguro fiança, 2500,00 reais por ano. A família não tem dinheiro para mais este gasto. Mais uma vez Laíssa volta no tempo e fala da Lei de terras de 1850. “A lei de terras de 1850 deixou os negros de fora, transformou a terra em algo lucrativo, era um bem que só quem tinha dinheiro podia comprar. Para negros foros era apenas uma ilusão”. Mara Lúcia complementa a fala: “Era melhor quando éramos escravos, nessa época sabíamos que nosso lugar era a senzala, e agora qual é o nosso lugar? Me diga um lugar nesta cidade onde os pobres não estejam sendo expulsos”.


O medo é constante, a incerteza uma companheira de horas eternas. Só que neste momento o coração de Laíssa tem mais um motivo para sangrar. Ela quer estudar. Quer sair da favela, quer uma segurança, segurança esta que ela tem certeza só encontrará estudando muito.


Concentrar-se numa escola depois de um dia de trabalho na reciclagem não é fácil. Na cooperativa da Granja Julieta o trabalho é duro, eles precisam conviver com pessoas com sérios problemas mentais, dependentes químicos, deficientes físicos, trabalhar no sol e na chuva, no fim do dia o corpo e a mente estão “acabados”. Para piorar, Laíssa estuda em uma sala com mais de 60 alunos. A sala é pequena para tanta gente, quem chega atrasado tem que ir buscar carteiras em outras salas, atrapalhando assim a aula já em andamento. O calor é intenso mesmo no inverno. Laíssa, que tem bronquite, sofre com crises de falta de ar. “Noutro dia – conta Laíssa – uma colega de sala teve um ataque de nervos. Depois que a acalmamos ficamos sabendo o motivo: ela é deficiente auditiva e não conseguia entender o que a professora explicava”.


Houve um movimento na escola para dividir a sala, mas disseram que não havia motivo para tanto, que em pouco tempo muitos alunos deixariam de frequentar o curso e a sala ficaria mais“vazia”.


Às vezes Laíssa chora, sente além das dificuldades o preconceito, daqueles que a veem como lixeira e não como agente ambiental. Noutro dia no banheiro do colégio ouviu algumas colegas “tirarem um sarro” de sua profissão, falavam com desprezo e descaso. Também diziam que era mentira que ela fazia parte dos movimentos todos que ela contava na sala de aula. A forma pejorativa a que se referiam a ela e seus colegas de trabalho doeram fundo, a fez inclusive pensar em deixar a escola. Na cooperativa a história acabou virando piada, pois catadores de origem mais humilde queriam ir até a escola tirar satisfação com as meninas que tinham magoado a Lalá. Um deles queria ir até a polícia, pois “brulim” é crime. Como na cooperativa da Granja tudo é motivo para festa, o “brulim” da Lalá virou mais um motivo para o riso.


Apesar das dificuldades Laíssa não se queixa dos professores, tem carinho e respeito por todos. Aprendeu desde cedo que a vida não é fácil, mas que não existe outra forma de enfrentá-la que não seja de frente.


Lembram-se da frase inicial “Sexta-feira, 12 de novembro de 2010. Laíssa Sobral Martins matricula-se no curso de gestão ambiental de uma universidade privada”, a guerreira Laíssa, está na universidade. Mais uma menina negra, favelada, sofrida, adentra pelos portões das universidades brasileiras. Dentre em pouco ela deixará ser uma catadora e será uma gestora ambiental.


Laíssa entra para as estatísticas que mostram que em sete anos mais jovens negros e pardos entraram para a universidade do que nos últimos 500 anos. Em 2004 quando o governo Lula implantou o sistema de cotas na Universidade de Brasília (UnB) apenas 2% dos estudantes universitários brasileiros eram negros, apesar de a população negra representar mais de 46% da população brasileira. Atualmente quase um milhão de estudantes negros estão em cursos superiores.


Mas, como a vida não é fácil, ela tem medo muito medo do preconceito que encontrará na universidade, pois diferentemente dos outros alunos o pagamento de sua mensalidade sairá de seu trabalho na cooperativa. Trabalho este que, muitos brasileiros ainda não conhecem e não entendem o valor.


Na sexta-feira, 12 de novembro de 2010, lembrei-me de um encontro do Presidente Lula com os catadores, no qual ele disse que sonhava em ver não só os filhos dos catadores na universidade, como também os catadores.


Laíssa é o primeiro diploma da família. Mara e suas irmãs não completaram nem o fundamental. Agora, Laíssa, catadora e filha de catadora é universitária.



domingo, 26 de abril de 2009

POST-01-O MEU PAÍS -

O MEU PAÍS - Por ZÉ RAMALHO-NO ÁLBUM NAÇÃO NORDESTINA-
(Livardo Alves- Orlando Tejo- Gilvan Chaves )
Tô vendo tudo, tô vendo tudo/ Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo/ Um país que crianças elimina/ Que não ouve o clamor dos esquecidos/ Onde nunca os humildes são ouvidos/ E uma elite sem deus é quem domina/ Que permite um estupro em cada esquina/ E a certeza da dúvida infeliz/ Onde quem tem razão baixa a cerviz/ E massacram - se o negro e a mulher/ Pode ser o país de quem quiser/ Mas não é, com certeza, o meu país/ Um país onde as leis são descartáveis/ Por ausência de códigos corretos/ Com quarenta milhões de analfabetos/ E maior multidão de miseráveis/ Um país onde os homens confiáveis/ Não têm voz, não têm vez, nem diretriz/ Mas corruptos têm voz e vez e bis/ E o respaldo de estímulo incomum/ Pode ser o país de qualquer um/ Mas não é com certeza o meu país/ Um país que perdeu a identidade/ Sepultou o idioma português/ Aprendeu a falar pornofonês/ Aderindo à global vulgaridade/ Um país que não tem capacidade/ De saber o que pensa e o que diz/ Que não pode esconder a cicatriz/ De um povo de bem que vive mal/ Pode ser o país do carnaval/ Mas não é com certeza o meu país/ Um país que seus índios discrimina/ E as ciências e as artes não respeita/ Um país que ainda morre de maleita/ Por atraso geral da medicina/ Um país onde escola não ensina/ E hospital não dispõe de raio - x/ Onde a gente dos morros é feliz/ Se tem água de chuva e luz do sol/ Pode ser o país do futebol/ Mas não é com certeza o meu país/ Tô vendo tudo, tô vendo tudo/ Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo/ Um país que é doente e não se cura/ Quer ficar sempre no terceiro mundo/ Que do poço fatal chegou ao fundo/ Sem saber emergir da noite escura/ Um país que engoliu a compostura/ Atendendo a políticos sutis/ Que dividem o Brasil em mil Brasis/ Pra melhor assaltar de ponta a ponta/ Pode ser o país do faz-de-conta/ Mas não é com certeza o meu país/
Tô vendo tudo, tô vendo tudo/
Mas, bico calado, faz de conta que sou mudo
O MEU PAÍS-ZÉ RAMALHO